domingo, 10 de abril de 2011

comportamento

Mais higiene na intimidade

Publicado em 10 de abril de 2011

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Os perigos residem tanto na falta de higiene como no excesso do uso de produtos. Tal conduta pode eliminar a flora bacte- riana vaginal e abrir a porta para uma série de doenças
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Permanecer o dia inteiro de biquíni, principalmente de estiver molhado, pode provocar infecções fúngicas
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Pudor em observar, tocar e conhecer o próprio corpo interfere na higienização íntima

Na hora do banho, o ato de se tocar é essencial para que a mulher conheça melhor o próprio corpo, contribuindo não só para fortalecer a sexualidade como também para que ela possa realizar a higienização correta da região íntima. Além de livrar-se de odores indesejáveis, a limpeza do local impede o aparecimento de diversas infecções."O banho deve ser um momento de lazer e de encontro da mulher consigo mesma, atesta acoordenadora do Ambulatório de Sexualidade do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), dra. Elsa Gay. "O desequilíbrio do pH da região genital é o maior responsável por infecções. Para evitar que isso ocorra, é importante que as mulheres mantenham uma dieta balanceada, hidratem-se bem, não se submetam a estresse excessivo, façam check-ups periódicos, durmam bem e tirem sempre as dúvidas com seus médicos", explica a médica.

Apesar da quebra de tabus e de não ter sido mais vista com tanta resistência nos últimos anos, a higiene íntima ainda não recebe a devida atenção por parte da maioria das mulheres. Foi o que constatou a pesquisa realizada por ocasião do 15° Congresso Paulista de Obstetrícia e Ginecologia, no final de 2010.

O levantamento feito junto à 422 médicos mostrou resultados alarmantes, pois apenas 3% das mulheres atendidas por 75% a 100% dos especialistas entrevistados pediram espontaneamente orientação sobre higiene. Além disso, apenas 20% dos médicos afirmaram abordar o tema de forma proativa durante as consultas.Para mudar esses dados, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)lançou em 2010 o primeiro "Guia de Condutas sobre Higiene Íntima" voltado para auxiliar ginecologistas e obstetras quanto as orientações práticas sobre o tema, embasadas em investigações científicas.Continua na página 2

Mantenha o pH em equilíbrio

A higiene íntima é fundamental, mas pouca gente entende do assunto. "A maioria dos médicos não sabe como abordar corretamente a questão, seja em relação ao homem ou à mulher", segundo afirma o ginecologista e obstetra da Universidade de Campinas (Unicamp), dr. Paulo César Giraldo durante coletiva, em São Paulo. Também coordenador do 1° "Guia Prático de Condutas Sobre Higiene Íntima" da Febrasgo com apoio da Sanofi-aventis, o especialista adverte que, embora deva ocorrer diariamente, se não for feita de forma adequada, a limpeza da região íntima pode ser prejudicial.

Segundo o guia (disponível no site www.febrasgo.org.br), o processo não deve ultrapassar a 2 a 3 minutos. Em climas quentes como o de Fortaleza, o ideal é que ocorra de 1 a 3 vezes ao dia. "Higiene demais pode causar fissuras na pele, enquanto a falta de limpeza faz com que ocorra o acúmulo de células mortas e a consequente proliferação de bactérias. Estas não devem ser completamente exterminadas, mas ter sua população equilibrada", afirma o dr. Paulo César Giraldo.

Barreira protetora

A pele da região genital, assim como qualquer outra parte do corpo, serve de barreira para a entrada de microrganismos e, para isso, deve estar em boas condições, mantendo um pH ácido (em torno de 5,9). Por isso, jamais deve-se usar sabonetes neutros ou com pH básico ao se lavar.

Além do produto em si, outros fatores podem contribuir para o desequilíbrio do pH da genitália: ressecamento cutâneo (seja por doenças de pele, medicamentos, idade ou clima), oclusão, excesso ou falta de higiene e roupas com fibras sintéticas. As consequências podem ir desde a ocorrência de irritações, alergias, infecções, dano à barreira protetora da pele ou suscetibilidade a inflamações.

"Fazer a higiene íntima deve ser um hábito e não um tratamento. A mulher precisa realizá-la diariamente e não apenas após o ato sexual", adverte o dr. Giraldo que considera fundamental que a mulher conheça sua anatomia.

Banho íntimo

Durante o banho, a mulher não deve ter receio de tocar seu corpo. Com o sabonete adequado (hipoalergênico e de pH ácido) e água corrente, ela deve executar movimentos leves e circulares em todas as reentrâncias da vulva, limpando apenas a área externa e intermediária, e nunca a interna. Deve haver também o cuidado para que os resíduos da região anal não contaminem a genitália. A secagem é tão importante quanto a lavagem, pois a umidade pode contribuir para a proliferação de fungos e bactérias. O ideal é que seja feita com uma toalha limpa e macia e nunca com papel higiênico, que acaba deixando resíduos na região. Deve-se secar delicadamente cada reentrância genital e hidratá-la com produtos sem fragrância.

O dr. Paulo César explica que, em casos nos quais a mulher não pode fazer todo o procedimento por estar fora de casa, o uso de lenços umedecidos é uma boa opção, mas não deve ser um ato frequente. O uso de absorventes diários precisa ser cauteloso. As melhores opções são os isentos de perfumes e partes plásticas de forma a facilitar a ventilação.

No período menstrual, a mulher deve redobrar os cuidados, lavando-se e trocando os absorventes com frequência. No caso dos absorventes internos, deve lavar bem as mãos e a vulva para não levar bactérias para a área interna da genitália. É importante que dê preferência a roupas frescas e calcinhas de algodão, que devem ser bem limpas e secas, para que não se transformem em depósito de resíduos.

Sabonete Íntimo

Hipoalergênicos apropriados para a higiene íntima;
Líquidos e com pH ácido (entre 4,2 e 5,6), pois sabões em barra costumam ser alcalinos e mais suscetíveis à contaminação;
Pouco detergentes, produzindo pouca espuma a fim de limpar suavemente a pele sem remover sua camada protetora;
Sem substância antissépticas (triclosan e clorexidina) que matam os germes bons (naturais) da pele;
Recomendados pelo ginecologista, pois algumas mulheres de pele mais sensível não podem usar produtos químicos, mas apenas água.

ENTREVISTA
Dra. Danielle Sá

Uso excessivo de sabonete íntimo pode acarretar alterações na flora vaginal

O desconhecimento da mulher acerca do próprio corpo e da higiene íntima ainda é muito comum?

Sim. As mulheres ainda têm muito pudor em observar, tocar e conhecer o próprio corpo, principalmente os órgãos genitais. A vagina ainda é vista como um local obscuro, desconhecido, até um pouco sujo... E isso interfere na forma como deve ser realizada a higiene íntima.

Como observa os muitos casos de doenças em função da má higienização íntima? Quais as mais frequentes?

A questão da má higiene feminina passa tanto pela falta de higiene como pelo excesso... É comum em crianças e adolescentes observar corrimento vaginal decorrente da contaminação da vagina por fezes, visto que muitas vezes esse grupo de pacientes realiza a higiene íntima de forma incorreta ou pouco frequente. Por outro lado, existem pacientes tão preocupadas em "limpar" a vagina que exageram no uso de produtos de higiene e eliminam a flora vaginal normal acarretando o surgimento de doenças como a candidíase e a vaginose bacteriana.

Quais sinais podem evidenciar o surgimento de tais doenças?

A presença de secreção vaginal em maior quantidade, prurido (coceira), vermelhidão ou odor desagradável são alguns dos sinais que podem estar presentes.

Quando o corrimento vaginal deve ser motivo de preocupação?

O corrimento vaginal deve preocupar quando a quantidade estiver aumentada, com uma coloração muito amarelada ou esverdeada, odor desagradável ou se estiver associado a dor ou sangramento durante as relações sexuais.

Quais cuidados a mulher deve ficar atenta quando for utilizar banheiros públicos?

Muitas das bactérias e vírus não sobrevivem por muito tempo no ambiente, sendo então a transmissão pouco frequente. Mas é importante, como não sabemos como e com que frequência é realizada a limpeza desses locais, evitar o contato com aparelhos sanitários onde existam secreções visíveis. Se possível, colocar papel na superfície do vaso sanitário para evitar o contato direto com o mesmo.

A mulher deve tomar cuidados especiais no período menstrual? Qual a frequência para a troca dos absorventes íntimos?

O período menstrual (como se associa ao uso de absorventes), com maior umidade e abafamento da região genital, pode favorecer a ocorrência de infecção por fungos como a candidíase. É interessante usar absorventes que esquentem ou abafem menos a regiã, assim como realizar a troca a cada 2 ou 3 horas, principalmente de forem absorventes internos (tipo OB).

É a favor do uso diário de protetores de calcinha?

Os protetores diários, por serem menores e finos, deveriam ser usados somente quando o fluxo menstrual fosse escasso, mas infelizmente muitas mulheres atualmente os utilizam de forma rotineira. Já vivemos em uma cidade de clima quente, muitas vezes utilizando calças de tecido grosso como jeans, com calcinhas de tecido sintético, que já esquentam muito a região genital. Com os protetores diários esse aumento da temperatura na região genital é ainda maior o que muitas vezes favorece a ocorrência de infecções. Dessa forma, o ideal seria que as mulheres trocassem mais vezes as calcinhas e deixassem os protetores para situações excepcionais como uma viagem ou onde a troca é impraticável.

Ginecologista/obstetra, professora do curso de Medicina da Universidade de Fortaleza (Unifor)

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